segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Moacyr Scliar.. Ultima Coluna em Zero Hora...

Moacyr Jaime Scliar "A última coluna em Zero Hora"
15-01-2011


MOACYR SCLIAR





A notícia chegou com atraso e deu um toque melancólico
à passagem do ano: morreu a modelo e atriz
francesa Isabelle Caro que, numa foto famosa, mostrou
seu corpo magérrimo (pesava menos de 30 quilos) devastado
pela anorexia nervosa, da qual ela, como muitas
outras garotas, foi vítima. Fez disso uma causa, inteiramente
justificada quando se considera as pressões
exercidas, sobretudo sobre modelos, para que tenham
um corpo delgado. Isabelle defendeu essa causa com
coragem e com inteligência.
Por coincidência, no mesmo dia em que foi anunciada
sua morte, era divulgado um estudo publicado
na revista inglesa de psiquiatria Annals of General
Psychiatry mostrando que pessoas com anorexia nervosa
têm quociente de inteligência (QI) superior ao da
população em geral. Não chega a ser novidade; outros
estudos já haviam chegado à mesma conclusão.A pergunta
se impõe: como se explica que pessoas inteligentes
adotem o comportamento doentio que as leva a
recusar o alimento, chegando ao extremo da completa
desnutrição?




A resposta é óbvia. Inteligência não é a mesma coisa
que equilíbrio emocional. Inteligência refere-se ao raciocínio,
ao entendimento; situa-se no plano do intelecto.
O equilíbrio emocional resulta da capacidade que
todos temos, em maior ou menor grau, de lidar com
nossos impulsos, positivos ou negativos. Por causa disso
muitos autores propuseram expressões que unissem
inteligência e controle emocional. Já no começo do século
passado Edward Thorndike falava em “inteligência
social”; em 1975 Howard Gardner introduziu a ideia
de que inteligência não é uma coisa só, que há vários tipos
de inteligência,incluindo a inteligência que permite
a uma pessoa entender a si própria, seus sentimentos,
temores, motivações; nos anos 90 surgiu o conceito de
inteligência emocional popularizado pelo psicólogo (e
colaborador do New York Times) Daniel Goleman, autor
do best-seller Emotional Intelligence: Why It Can
Matter More Than IQ (Inteligência emocional: porque
ela é mais importante que o QI).

Isto não significa ignorar a inteligência no seu conceito
clássico. O trabalho citado também mostrou um fato
interessante: as pessoas que se recuperaram da anorexia
nervosa tinham QI mais alto. Ou seja, a inteligência
talvez ajude os anoréxicos a combater eficazmente seu
problema. Como em tudo na vida, o binômio inteligência-
equilíbrio emocional é aí fundamental.




Uma conclusão que Isabelle Caro sem dúvida endossaria.







Moacyr Jaime Scliar "A última coluna em Zero Hora"

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